O papel do médico Clínico Geral tornou-se, nos últimos anos, mais importante e abrangente porque cabe a este profissional avaliar o paciente como um todo, indicar as primeiras medidas para fazer um diagnóstico preciso, apontar o tratamento adequado e, se necessário, encaminhar para o especialista que deve dar continuidade ao trabalho. Freqüentemente, o Clínico Geral também tem se deparado com a obrigação de oferecer ao paciente, além do tratamento médico, orientação nutricional e psicológica.
Os recentes avanços da Medicina mostram que muitas doenças estão correlacionadas, que os sintomas de várias delas são similares e, principalmente, que a avaliação do paciente como um todo, ou seja, física e psicologicamente, é fundamental para a realização de um diagnóstico acurado e para a indicação do melhor tratamento. A Ansiedade e a Depressão são exemplos clássicos. Estima-se que cerca de 20% das mulheres e 15% dos homens, em algum momento da vida, enfrentam crises de depressão, ou ansiedade. A maioria destes doentes, 80%, chega ao consultório do médico com queixas físicas, como dor de estômago, problemas de pele e infecções de repetição. O mais importante, nestes casos, é conversar com o paciente sobre aspectos gerais de sua vida, como atividade sexual, profissional, relacionamento amoroso e situação financeira, fatores desencadeadores da Depressão e da Ansiedade, doenças consideradas pela OMS - Organização Mundial da Saúde como duas das principais causas de problemas ainda mais graves, como os cardiovasculares, hipertensão, infarto, câncer e doenças imunológicas.
Outro avanço importante é o reconhecimento da necessidade de tratar de forma multidisciplinar o paciente. Isto significa que o doente, além do atendimento médico, precisa de apoio psicológico e orientação nutricional. O trabalho destes profissionais serve como estímulo para o indivíduo aderir ao tratamento, entender melhor sua doença, combatê-la e, principalmente, adotar hábitos saudáveis, que garantirão a melhoria de sua qualidade de vida.
Por exemplo, o tratamento ideal para a hipertensão arterial, doença que atinge cerca de vinte milhões de brasileiros, é o multiprofissional, envolvendo médico, psicólogo, nutricionista e enfermeiro. O maior problema do tratamento desta doença é que 50% das pessoas que tem pressão alta não seguem as recomendações. Em geral, abandonam o tratamento por causa de efeitos colaterais dos medicamentos, falta de estímulo para atividade física, dificuldade em fazer dieta e em largar o fumo, e obrigatoriedade de retornar ao consultório médico periodicamente.
O hipertenso precisa de tratamento amplo, que reúna remédios e recomendações sobre hábitos saudáveis. Com o atendimento multidisciplinar há maior aderência às recomendações, como uso de medicamentos, dieta, prática de atividade física, suspensão do tabagismo e redução do consumo de bebidas alcoólicas, o que leva à melhora geral da saúde.
Apesar da maioria dos serviços de saúde brasileiros reconhecerem a importância do tratamento multiprofissional, na prática, poucos o oferecem. Em geral, por falta de profissionais especializados, ou de recursos financeiros, ou ainda por precisarem direcionar suas verbas para áreas mais prioritárias. Diante disso, fica nas mãos do Clínico Geral o desenvolvimento de todos estes papéis: atendimento médico, orientação psicológica e nutricional.
A população brasileira também desenvolveu um hábito que pode ser prejudicial à saúde. As pessoas, a qualquer sinal de problema de saúde, fazem seu próprio diagnóstico e tendem a procurar um especialista ao invés do Clínico Geral. Às vezes, uma dor de estômago pode ser um problema a ser tratado pelo gastroenterologista, mas também pode ser uma crise de depressão, que exige um atendimento diferenciado.
Muitas vezes, o paciente é submetido a uma bateria de exames para confirmar se há problema gastrointestinal e chega a tomar medicamentos para aliviar os sintomas, sem que a causa da doença seja tratada. Só depois de confirmar que o paciente não tem problema em sua área, o especialista o encaminha a outro médico e, nesta fase, em geral, é o Clínico Geral, que novamente avalia o paciente, até chegar ao diagnóstico certo e, se necessário, indicá-lo ao especialista adequado.
Esta maratona de médicos, o desgaste emocional e a perda de tempo em iniciar o tratamento podem ser evitados se o paciente, em primeiro lugar, recorrer sempre a um Clínico Geral e, o ideal, é transformar este médico no "seu" médico, se possível, o médico da família. Consultando o mesmo profissional, periodicamente, seja para prevenção ou tratamento, o médico consegue conhecer melhor seu paciente como um todo e pode prevenir, ou adiar o surgimento de doenças hereditárias, como diabetes e hipertensão, agilizando o trabalho e, o mais importante, fortalecendo a relação médico - paciente